
10 Nov O Liberalismo é pecado
“De todas as inconsequências e antinomias que se encontram nas escalas médias do Liberalismo, a mais repugnante de todas e a mais odiosa é a que pretende nada menos que a união do Liberalismo com o Catolicismo, para formar o que se conhece na história dos modernos desvarios pelo nome de Liberalismo Católico ou Catolicismo Liberal. O que não obsta tenham pago tributo a este absurdo inteligências preclaras e corações honradíssimos, que não podemos deixar de crer bem intencionados. O Liberalismo teve sua época de moda e prestígio, que, graças ao céu, vai passando, ou já passou.
Este funesto erro teve princípio num desejo exagerado de estabelecer conciliação e paz entre doutrinas que forçosamente e por sua essência são inconciliáveis e inimigas.
O Liberalismo é o dogma da independência absoluta da razão individual e social; o Catolicismo é o dogma da sujeição da razão individual e social à lei de Deus. Como conciliar o sim e o não de tão opostas doutrinas?
Aos fundadores do Liberalismo Católico pareceu coisa fácil. Excogitaram uma razão individual, ligada à lei do Evangelho, porém, coexistindo com ela uma razão pública ou social livre de toda a coerção. Disseram: “O Estado, como tal, não deve ter religião, ou deve tê-la somente até certo ponto, que não vá incomodar os que não queiram tê-la. Assim, pois, o cidadão particular deve sujeitar-se à revelação de Jesus Cristo; porém o homem público deve, como tal, portar-se como se para ele não existira a dita revelação”.
Desta maneira forjaram a célebre fórmula: A Igreja livre no Estado livre, fórmula para cuja propagação e defesa se ajuramentaram em França vários católicos insignes, entre eles um ilustre Prelado; fórmula, que devia ser suspeita, desde que a tomou Cavour para arvorá-la em bandeira da revolução italiana contra o poder temporal da Santa Sé; fórmula, de que, apesar do seu evidente desastre, não consta que seus autores se hajam retratado ainda.
Não chegaram a ver estes esclarecidos sofistas, que, se a razão individual era obrigada a submeter-se à lei de Deus, não podia declarar-se isenta dela a razão pública ou social sem cair num dualismo extravagante, que submete o homem à lei dos critérios opostos e de duas opostas consciências. Pois que a distinção do homem, em particular e cidadão, obrigando-o no primeiro caso a ser cristão e permitindo-lhe ser ateu no segundo, caiu imediatamente por si sob o peso esmagador da lógica integralmente católica. (…)”
Fonte: “O Liberalismo é Pecado”, D. Felix Sardá i Salvany, P. (foto) (Versão Original – 1887 – Barcelona, Espanha). O Liberalismo é Pecado. Versão Brasileira – 1949 – São Paulo, Brasil: Companhia Editora Panorama.