Arautos d'El-Rei | História breve de um Herói do Ultramar
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História breve de um Herói do Ultramar

Segundo-Tenente Oliveira e Carmo

Jorge Manuel Catalão de Oliveira e Carmo nasceu em Santo Estêvão, Concelho de Alenquer, em Setembro de 1936.
Concluiu o curso secundário no Liceu Pedro Nunes em 1954, tendo ingressado na Escola do Exército em Outubro do mesmo ano para efectuar os estudos preparatórios ao ingresso na Escola Naval.
Promovido a Guarda-marinha em 1 de Maio de 1958, embarcou em vários navios, tendo também prestado serviço na Superintendência dos Serviços da Armada e no Comando da Flotilha de Patrulhas. Foi promovido a Segundo-Tenente no último dia daquele ano.
Serviu a bordo dos patrulhas “Boavista” e “Porto Santo” e na fragata “Pêro Escobar”, onde o seu elevado brio, o seu inquestionável sentido das responsabilidades e do dever e o seu exemplar aprumo militar foram alvo dos maiores elogios. Nomeado comandante da lancha de fiscalização “Vega”, a prestar serviço em Diu, para ali partiu no Verão de 1961.

Naquele território, à semelhança dos restantes que faziam parte da Índia Portuguesa, pairava desde há muito a ameaça de anexação pela poderosa União Indiana. A temida invasão acabaria por se concretizar, de forma esmagadora, na madrugada de 18 de Dezembro de 1961. O combate extremamente desigual que se desenrolou constituiu o ponto culminante da curta carreira de Oliveira e Carmo, que no seu abnegado heroísmo viria a escrever uma das mais gloriosas páginas da nossa História Naval.

O COMBATE
Tendo saído de Diu em 17 de Dezembro, a “Vega” fundeou frente a Nagoá às 22h00 desse dia. Na madrugada do dia 18, por volta das 01h40, foram ouvidos tiros em terra pela praça de serviço. Alertado, o Comandante manda ocupar postos de combate e suspender(*).
Dirigiu-se então a lancha na direcção de um contacto radar não identificado que navegava a cerca de 12 milhas da costa. Por volta das 04h00, esse navio, visualmente identificado como um cruzador, lançou granadas iluminantes e abriu fogo de metralhadora pesada sobre a “Vega”, que retirou para Diu e fundeou.
Ás 06h15 suspendeu e aproximou-se novamente do cruzador, onde foi vista, içada no mastro, a bandeira da União Indiana. A lancha regressou ao fundeadouro e Oliveira e Carmo fardou-se de branco para, segundo afirmou, morrer com mais honra.
Às 07h00 foram avistados aviões a jacto efectuando bombardeamento sobre terra. O Comandante reuniu a guarnição e leu-lhes as ordens do Estado-Maior da Armada, segundo as quais a lancha deveria combater até ao último cartucho.
Cerca das 07h30 aproximaram-se dois aviões para bombardear a Fortaleza e Oliveira e Carmo mandou abrir fogo sobre eles com a peça de 20 mm (um dos aparelhos acabaria por ser atingido e obrigado a aterrar). Estes, naturalmente, ripostaram. Agilmente manobrada pelo seu comandante, a “Vega” esquivou-se às primeiras rajadas. No entanto, um novo ataque, desta vez com fogo cruzado, matou o marinheiro artilheiro António Ferreira e cortou pelas coxas as pernas de Oliveira e Carmo que, ainda com vida, retirou do bolso e beijou as fotografias da mulher e do filho pequeno. Deflagrara entretanto um violento incêndio, que rapidamente se propagou à casa da máquina e à ponte. A peça foi abandonada, em virtude do seu reduto se ter tornado intransitável devido aos buracos causados pelos projécteis inimigos e pelo incêndio, que já grassava no convés.
A guarnição tentou então arriar o bote para evacuar o Comandante, mas um novo ataque aéreo feriu mortalmente Oliveira e Carmo, tendo também sido atingidos três marinheiros (um deles, marinheiro artilheiro Fernandes Jardino, com a perna esquerda cortada pela canela, viria a falecer no trânsito para terra).
Com o bote inutilizado e a lancha completamente tomada pelas chamas, viram-se os sobreviventes obrigados a nadar em direcção a terra, agarrando-se os feridos a uma balsa. Sacudida pelas explosões das suas próprias munições, a “Vega” acabaria por se afundar, arrastando consigo o corpo do seu heróico Comandante.
Oliveira e Carmo foi, a título póstumo, condecorado com a Medalha de Valor Militar com Palma, agraciado com o grau de Comendador da Ordem Militar da Torre e Espada e promovido por distinção ao posto de Capitão-Tenente.
Foi patrono do curso 1962-1967 da Escola Naval.

(*) Levantar o ferro

Imagem: O Segundo-Tenente Oliveira e Carmo foi um dos últimos Heróis da Marinha Portuguesa no Ultramar. Apesar dos escassos meios da sua lancha, não hesitou em enfrentar uma força militar muito superior, morrendo com heroísmo e honra à semelhança do que fizeram tantos portugueses nas nossas Províncias da Índia e em especial na nossa lendária Fortaleza de Diu.

Artigo e Imagem divulgados pela Comissão Executiva do 17º Encontro Nacional de Combatentes



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