Arautos d'El-Rei | “A Última Missão” do Coronel Paraquedista José de Moura Calheiros
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A última missão

“A Última Missão” do Coronel Paraquedista José de Moura Calheiros

À medida que o tempo vai passando, começa a ser escrita e divulgada a verdadeira história sobre o que foi a Guerra do Ultramar, recordando-se os inúmeros actos heróicos (de militares e civis) ocorridos nas Províncias Ultramarinas de Angola, Guiné e Moçambique, e que, desde os tempos idos do PREC foram propositadamente ocultados aos portugueses…

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José Filipe Sepúlveda da Fonseca

Decorridos que vão 35 anos desde o fim da Guerra do Ultramar que se desenrolou entre 1961 e 1974, este assunto ainda continua a ser motivo de alguns debates, por vezes acalorados, e faz ainda correr muita tinta.

Ou seja, passada uma geração, este período de 13 anos da nossa História recente continua a deixar algumas feridas por sarar em certos sectores da sociedade portuguesa. Em minha opinião, após o 25 de Abril de 1974, algumas dessas feridas foram abertas, em grande medida, em resultado de uma visão propositadamente distorcida e nociva sobre a presença de Portugal em África desde o séc. XV, veiculada por forças políticas da Esquerda alinhadas com a ideologia e a praxis marxistas e pouco ou nada interessadas em defender os superiores interesses do Estado português e da presença de Portugal durante mais de cinco séculos em África.

Assim, desde o período do PREC, em 1975, e até à época do Governo de coligação PSD-CDS entre 2002 e 2004, presidido por Durão Barroso durante o qual Paulo Portas teve a seu cargo a pasta da Defesa, a imagem dos antigos combatentes no Ultramar português foi totalmente desacreditada, tendo a grande maioria dos antigos combatentes no Ultramar sido completamente relegada ao quase total esquecimento pelo poder político durante aproximadamente 30 anos.

É de realçar, com toda a justiça, o trabalho notável que foi levado a cabo pelo Dr. Paulo Portas, como Ministro da Defesa, entre 2002 e 2004 para a reabilitação da imagem dos antigos combatentes na Guerra do Ultramar. Ao reabilitar a imagem dos antigos combatentes, Paulo Portas repunha definitivamente algo que era do mais elementar senso de justiça, ou seja, o Estado Português passava a reconhecer aos antigos combatentes portugueses em África o estatuto que lhes era devido, uma vez que tinham defendido os superiores interesses de Portugal, alguns deles chegando a dar as suas próprias vidas em defesa da Pátria.

À medida que o tempo vai passando, começa a ser escrita e divulgada a verdadeira história sobre o que foi exactamente a Guerra do Ultramar, repondo-se desse modo a verdade sobre muitos actos heróicos levados a cabo nas antigas províncias ultramarinas de Angola, Guiné e Moçambique, e que, desde os tempos idos do PREC foram ocultados propositadamente a muitos portugueses.

Nesta lógica de reposição da verdade histórica sobre a Guerra no Ultramar, foi recentemente lançada na Academia Militar, em Lisboa, com a presença de mais de 400 convidados, a obra: “A Última Missão” da autoria do Coronel Paraquedista José de Moura Calheiros, antigo combatente na Guiné.

A obra tem como ponto central a descrição de uma operação comandada por Moura Calheiros em 23 de Maio de 1973 quando prestava serviço no Batalhão de Caçadores Pára-quedistas 12, sediado em Bissalanca, na Guiné.

Nessa operação, que tinha como “missão restabelecer e reforçar a guarnição de Guidage, cercada pelo PAIGC, a Companhia de Caçadores Pára-quedistas 12” sofreu quatro mortos, dos quais três tiveram que ser inumados naquela localidade. Em “A Última Missão” Moura Calheiros descreve-nos ainda a Missão da Liga dos Combatentes realizada em Março de 2008 que ele integrou com a finalidade de exumar os três pára-quedistas mortos e outros sete do Exército.

Ao ler esta obra, o leitor apercebe-se com muito realismo do modus operandi dos Páras nas operações em África, bem como os seus valores, ideais e princípios.

Como bem observou Rui de Azevedo Teixeira no Ensaio Prefacial a esta obra e cito: “ Este é o livro de um velho beirão que (…) nada deve à sociedade. Pelo contrário, na guerra serviu-a de um modo que esta pós-heróica democracia, este tempo de pós-pathos, não compreenderia (…). Como é que um boy democrático entenderia os sacrifícios passados, durante anos e sem grandes contrapartidas financeiras, ‘ lá onde o Diabo perdeu as botas’ ?! Enfim, vive-se no pós-modernismo, segundo alguns (…) É o tempo em que os valores de tudo igual a tudo (os desportistas são “heróis”) e da auto-satisfação imediata são matraqueados pelo maior exército que jamais houve – a dita “comunicação social”, que actua dia e noite, durante todo ano, em todo o mundo”.

Ainda segundo Rui de Azevedo Teixeira, “A Última Missão, com a sua boa escrita, amplo desenho, factos fortes e consistência, é a melhor peça memorialística sobre a nossa última guerra.”

Fica aqui uma sugestão de leitura para a Quadra do Natal.

Crónica semanal para a Rádio Universidade FM de Vila Real, 12-12-2010



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