Arautos d'El-Rei | O Centenário da Primeira República
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Perseguição republicana

O Centenário da Primeira República

Na Primeira República a religião católica foi perseguida, o partido monárquico foi proibido, a liberdade de imprensa foi reprimida e os opositores frequentemente assassinados nas ruas.

José A. Vasconcellos e Sá*

Compreende-se o empolgamento de quantos participaram no evento. Já que a Primeira República foi um período de grande “progresso”. Vejamos as principais razões (e com a devida vénia aos historiadores Mata, Valério e Pulido Valente):

Primeiro, no nível de vida: entre 1910 e 1925 o PIB total decresceu 8% e o per capita 12%.

Segundo, a nível de estabilidade política: em 16 anos houve 7 parlamentos, 8 presidentes e 45 governos.

Terceiro, nas liberdades: a religião católica perseguida; o partido monárquico proibido (contudo na monarquia havia um partido republicano…); as redacções de jornais invadidas; e os opositores assassinados nas ruas. Frequentemente.

Quarto, a nível de democracia: os analfabetos não podiam votar; as mulheres tão-pouco; nem os padres. O caderno eleitoral em 1926 tinha menos inscritos que em 1910; e em 1925 votou 4% (!) da população portuguesa, para além, é claro, da institucionalização das fraudes eleitorais.

Quinto, sexto, sétimo e oitavo – a desagregação do Estado (incapaz de manter a segurança, etc.): os sucessivos déficits orçamentais; a galopante dívida externa e o domínio por um único partido (o Democrático), sem qualquer rotatividade.

Compreende-se, assim, que os bisnetos políticos de Afonso Costa celebrem o centenário da 1ª República.

E porque a acção é a maior eloquência (Shakespeare), não quiseram deixar de juntar às comemorações as suas obras na Terceira Repúlbica.

Não só as mais conhecidas: desequilíbrio orçamental; dívida externa incontrolável; desemprego acima dos 10% (e muito maior seria não fora a emigração anual de 2% da população activa e as “acções de formação”) e a inoperância do Estado na protecção do ambiente, na justiça, no ensino, etc.

Como também as realizações menos lembradas: 18 governos e 20 ministros das finanças contra p.ex., cinco governos e cinco ministros das finanças do pós-franquismo em Espanha.

Além, é claro, daquelas frequentemente esquecidas: decréscimo do rendimento per capita real em 10% desde 2004 (tomando em conta o que sai do país sob a forma de juros, etc. e a transferência da economia subterrânea para a formal).

Donde, a consequência da 1ª República foi a ditadura. O resultado da 3ª é o FMI (por duas vezes no passado, em 77 e 83 e outra a breve trecho no futuro).

E tudo isto apesar de a 3ª República estar (e a 1ª não) inserida no espaço económico mais rico (em valor absoluto) do mundo: a UE; apesar de ter uma moeda europeia e de receber anualmente de Bruxelas, em termos líquidos, até 2% do PIB.

Enfim. Compreendem-se assim as celebrações da 1ª República. Bem como a eloquência da acção dos seus herdeiros políticos na terceira.

É que, como diz o povo, “quem sai aos seus não degenera”.

 

in Vida Económica, Nº 1366, 15-10-2010

Blog: www.institutoliberdadeeconomia.blogspot.com

* Mestre Drucker School, PhD Columbia University, Professor Catedrático



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