
15 Out António Costa e a perversão das regras da democracia parlamentar
Estratégia radical de conquista do Poder que afronta a vontade clara de mais de 2 milhões de portugueses que deram a vitória nas urnas à coligação “Portugal à Frente”
José Filipe Sepúlveda da Fonseca
A última semana tem sido marcada pela agitação mediática protagonizada pelo líder do Partido Socialista e pelos líderes da extrema-esquerda, desencadeada após o pedido do Chefe de Estado ao Dr. Pedro Passos Coelho para que encontrasse uma solução de governabilidade para a próxima legislatura.
É lamentável a encenação pós-eleitoral que tem sido levada a cabo pelo Dr. António Costa. Contra a opinião de vários analistas políticos, economistas e até de destacados membros do PS, Costa insiste na narrativa de que só um governo à esquerda liderado pelo PS garantirá a estabilidade necessária para a próxima legislatura.
Os mais de dois milhões de portugueses que votaram na coligação vencedora das eleições, bem como amplos sectores da sociedade portuguesa assistem atónitos e apreensivos à atitude do líder do PS que, teimando em não reconhecer a derrota sofrida pelo Partido Socialista, tenta por todas as formas, através do espaço mediático, condicionar e chantagear politicamente os líderes da coligação “Portugal à Frente” e simultaneamente condicionar a escolha do Presidente da República para a formação do próximo governo de Portugal, pensando que com isso poderá obter grandes dividendos políticos.
Em minha opinião, António Costa não hesitará um único segundo em aliar-se à extrema esquerda desde que esta viabilize na Assembleia da República um governo PS liderado por si, ou até mesmo acenando a Catarina Martins e a alguns líderes do Partido Comunista para que integrem um governo liderado pelo PS.
Devido à sua ambição desmedida e com uma agenda política desconhecida e não sufragada pelos portugueses, António Costa tenta habilmente montar uma estratégia de assalto ao Poder, procurando assim contrariar uma prática de quase quatro décadas, segundo a qual, cabe ao vencedor do partido mais votado nas eleições legislativas constituir governo, ainda quando esse governo tenha só o apoio de uma maioria relativa na Assembleia da República.
É minha convicção profunda que, no caso de tal vir a acontecer, Portugal seria de novo conduzido em poucos semestres para uma situação de descontrolo nas contas públicas em resultado de uma visão ideológica colectivista imposta pela extrema esquerda ao Partido Socialista. E assistiríamos a uma reedição dos governos de José Sócrates que conduziram Portugal à bancarrota, com um inevitável regresso da Troika a Portugal.
Recorrendo exclusivamente à aritmética parlamentar, pondo de parte o interesse nacional e recusando-se de forma cínica a estabelecer pontes de entendimento com a coligação vencedora das eleições, António Costa está a perverter as regras da democracia parlamentar e, com isso, a tentar inaugurar uma forma de fazer política muito perigosa, à semelhança dos caudilhos da América Latina.
A terminar, cito o excerto de um artigo de opinião de Maria João Avillez publicado ontem no jornal online OBSERVADOR com o sugestivo título, “O USURPADOR”: “O PS chegou à meta em segundo lugar e não em primeiro e pronuncia-se, age e comporta-se em festa e frenesim, como se os socialistas tivessem vencido. Ou como se tivesse sido experimentada uma nova governação da coligação que tivesse já derrapado mil vezes.
O país sabe que se trataria de uma usurpação, a Europa também, o mundo também. E last but not least, os portugueses também sabem. Mesmo que fazendo deles parvos-parvíssimos se evoque “a Constituição” como fonte legitimadora de um governo eleitoralmente anormal.”
Crónica Semanal para a Rádio Universidade FM de Vila Real, 15-10-2015